quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Os caminhos que levam a boemia

Nunca esqueço da frase que virou marca do meu grande amigo Mike*, nº 1 do Colégio Militar nos tempos áureos da adolescência em Santa Maria e hoje estrela da noite em Caxias do Sul: "quem quer dá um jeito." A frase ganhou amplitude ao se tornar fato na Alemanha. Pois, morando numa cidade de 13 mil habitantes, parecia impossível encontrar vida noturna por aqui, coisa que eu procurava.

Então, perguntando aqui, perguntando ali, fui parar no C'est la vie**.

O C'est la vie é um bar que está quase sempre cheio, ou seja, quase sempre dez pessoas. Parece pouco, mas é melhor do que o outro que eu freqüentava e achava ser o único. Quando a Lu esteve aqui, fomos nesse outro tomar umas cervejas. Bem apresentado, com ar de pub irlandês, o bar realmente causava uma boa impressão, apesar de ter pouca gente. Fui lá algumas vezes. Aí, depois que a Lu veio, eu todo prosa fui comentar com um companheiro do treino de futebol aonde eu tinha levado a amiga brasileira que viera me visitar. Ele não conseguia entender que lugar era. Destruindo o idoma alemão aqui, detonando acolá, ele chegou à conclusão que era o C'est la vie. Como eu não sabia o nome do bar, disse "ja, ja" ("sim, sim") e segui conversa. Depois, num dos inúmeros passeios de bicicleta que faço diariamente, passei na frente do tal C'est la vie e vi que era outro bar. Passei na frente e parei.

Esse agora é o meu point em Haselünne. Digo "meu", porque sei que para os haselünnenses de plantão é um barzinho a mais, como um boteco qualquer que um estrangeiro conhecesse em Santa Maria-RS. Em todo caso, foi no C'est la vie que tive meu primeiro papo de bêbado em alemão, algo tipo incronpreensível. Eu estava sentado no balcão, vendo um jogo da Super Liga, quando um bêbado bem bêbado me interpelou pela esquerda. Ele arranhava um inglês, mas, bêbado que estava, falava alemão pior que eu, apesar de ser alemão. Nem a garçonete entendia. Como se não bastasse, me perguntou umas quatro vezes de que país eu vinha, sendo que eu já havia respondido e ele tinha entendido. Como se não bastasse - parte 2, outro bêbado, amigo do primeiro e tão bêbado quanto, me interpelou pela direita. Me senti em casa.

Não entendi nada, mas achei muito produtivo. Rendeu um papo com a garçonete, que intermediou a conversa, servindo de tradutora. Eu entendia tudo que ela falava, e ela ignorava os bêbados que nem eu, então tudo ficou mais fácil.

Já sei que voltarei ao C'est la vie mais vezes. Fazer o quê? É a vida...

***

* A Lu, que também foi aluna do colégio militar e na época admirava o Mike, dois anos mais velho, me explicou aqui em Haselünne que essa era uma frase comum da escola. Perdeu assim o glamour, mas ganhou em efeito ao ser usada pelo Mike.

** Sei que o ideal é deixar para o leitor se dar conta, mas, na dúvida, preciso me exibir: que rima fiz agora!

2 comentários:

Anderson Ribeiro disse...

Como todo bêbado encontra sempre o caminho de casa, mesmo que seja estranho o lugar. Um bom bebedor sempre encontra também um lugar pra ficar bêbado, mesmo que seja num lugar estranho. hahahahaha. Quando voltares, podes ir até Brasília para tomarmos todas lá também tem pontes.

Carla Arend disse...

to com vontade de te visitar.

=D