sexta-feira, 13 de maio de 2011

O árbitro

Eis um belíssimo fragmento do livro O Senhor Juarroz, de Gonçalo M. Tavares.

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"O árbitro

Como o senhor Juarroz não era muito adepto do desporto, optava por competir consigo próprio, através daquilo que ele designava como 'os seus dois jogadores': o pensamento e a escrita.

Fazia, assim, jogos para verificar quem era mais criativo: se o seu pensamento, se a sua escrita.

Para o senhor Juarroz - que se considerava árbitro nessa disputa, portanto: exterior e neutro em relação ao seu pensamento e à sua escrita - a vitória final era sempre da mesma parte: do pensamento. A sua escrita nunca conseguia ser tão original como os seus raciocínios.

Porém, a decisão do senhor Juarroz levantava sempre grande polêmica interna, pois a escrita argumentava que possuia provas físicas e concretas da sua criatividade, ao contrário do pensamento que nunca apresentava qualquer tipo de prova. A escrita do senhor Juarroz acabava sempre por o acusar de ser um árbitro parcial. Um batoteiro, portanto."

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